A minha Lista de blogues

31/01/2007

RETALHOS DE ESCULTURAS

Escultores do tempo... esculpindo farois de arco-íris...
Curvo-me numa VÉNIA tocando os pólos dos mundos... agradecendo.


...parte-se em mim qualquer coisa. O vermelho anoiteceu. Senti de mais para poder continuar a sentir
Esgotou-se-me a alma, ficou só um eco dentro de mim.
Decresce sensívelmente a velocidade do volante.
Tiram-me um pouco as mãos dos olhos os meus sonhos.
Seja com alegria que eu reconheço que a morte
vem com um sol distante na antecâmara do meu não ser.
" E eu era feliz? Não sei: / Fui-o outrora agora!!
Fernando Pessoa (1915)


... o fim da tarde prometia chuva de noite. já muitas
vezes um vento maluco tinha corrido às cambalhotas
pelo areal, levantando àrvores de pó com folhas de papel dos montes de lixo escondidos pelo capim.
As portas e janelas se fechavam na cara desse vento
que traz desgraça e os olhos interrogavam,dos quintais
as nuvens cinzentas crescendo sobre a cidade...
Luandino Vieira (1962)


... enquanto ando lá por baixo, esqueço-me de
que tenho cá dentro um tal rosário de reacções
à espera de estímulo. Prova evidente de que os
ramos e as folhas estão longe das raízes...
Tudo o que sou claramente não é daqui. Mas
tudo o que sou obscuramente pertence a este
chão. A minha vida é uma corda de viola esticada
entre dois mundos. No outro, oiço-lhe a música;
neste, sinto-lhe as vibrações...
Miguel Torga (1965)


...O destino tem quatro direcções cruzadas. Quatro
pontas,igual os pontos cardeais. Minha felicidade está no este,dizia Apolinário.
Sempre que se encontrava perdido ele
tomava o sentido da nascente.
Fosse riqueza fosse mulher: seria nesse endereço que
encontraria seu aumento. Nunca ele encontrara
recompensa nem nesse nem em outro ponto cardeal.
Ao contrário sua existência era feita de substracção
contínua: no salário, na esperança, nos filhos que não vingaram...
Mia Couto (2001)

30/01/2007

O DESCANSO



"Tenho seis honestos servidores
que me ensinaram tudo o que sei
chamam-se quê, porquê e quando,
como, onde e quem.
Enviei-os por terra e mar
Enviei-os de este a oeste.
Mas depois de terem trabalhado para mim
A todos eles dou descanso."




BION,W.R (1957)





ENTENDER O PRINCÍPIO


Inicialmente, vemos qualquer novidade como mais uma diversão. Aos poucos, essa novidade passa a ser compreendida, - e então esquecemo-la. No entanto, à medida que a esquecemos, ela penetra no nosso inconsciente, e faz-nos um pouco diferentes
do que éramos antes.

Tudo o que já foi vivido por nós jamais se perderá. Não consigo pensar num fim para nada nesta terra.


Então, por que tentar entender o princípio?


Kahlil Gibran (1920)

DOR CRIATIVA

A dor pode ser criativa.

Sejamos bem directos, e analisemos o nosso caso: sofri muito por tua causa, e o mesmo aconteceu contigo. Mas foi graças a isso que descobrimos coisas - dentro de nós - de quem nem sequer sabíamos da existência.

Algumas pessoas atingem o que há de melhor na vida usando a alegria. Outros usam o sofrimento.

Mas a maior parte dos seres humanos não se permite nem uma coisa, nem outra; então, não atingem nada, e apenas passam por esta vida.

Kahlil Gibran (1923)

29/01/2007

O PROFETA

A diferença entre um profeta e um poeta é que o primeiro vive aquilo que ensina.

O poeta não o faz ; ele pode escrever versos magníficos sobre o amor, e mesmo assim, continuar sem ser amado. Quando uma pessoa aceita não ser amada acaba por se transformar em alguém impossível de se amar.

A arte é a tentativa de exprimir o que a humanidade ama. Em todas as épocas, nós amamos a beleza.

Nem tudo o que é belo é bom, mas toda a bondade é bela.
Kahlil Gibran (1922)

28/01/2007

VIDA

O destino semeara cristalinas tristezas
bordando pontos de alegria tardia,
salvando a solidão que morria
meus pés se levantam em subtilezas.

Em vertigem pose e lágrima
despenteando saudades futuras,
a alma sonhada com curas
no afagamento dorido da lástima.

Estranheza do nosso fazer,
de nosso dizer, sempre inimigo,
descobri minha alma, feita água,
escorrendo implacável p'lo desfazer,
buscando porto de abrigo
fugindo em suspiros da mágoa.

Como a lua, meu brilho, doutros é,
único intruso será o tempo
na noite que tem asas.
Olhos recompostos, excelsa ralé
múltiplos nadas em convento,
tambores mudos en casas.

Autora : Gwen
Caneta e dedos: Kimang

CONVICÇÕES

A prática de esconder a sua sabedoria de modo a
parecer um ser normal aos olhos dos outros, era feito
deliberadamente pelos antigos taoistas e budistas
depois de alcançar a iluminação, convictos de que
assim poderiam alcançar níveis mais elevados de
subtileza do que se deixassem admirar pelo seu
conhecimento.






Admirado e reconhecido pelo seu conhecimento, o ser humano moderno, apoiado e incentivado pelos poderosos mídia, na companhia do "sucesso" alcançado, torna-se convicto que assim disfarçará as
suas frágeis imperfeições, e aos olhos dos outros,
assume-se como iluminado, divulgando até à exaustão
essa condição.

27/01/2007

VERDADES


Procura achar o que há de melhor numa pessoa, e diz-lhe isso.Todos nós precisamos deste tipo de estímulo; cada vez que o meu trabalho é elogiado, torno-me mais humilde, porque não me sinto ignorado ou indesejado.
Todo o mundo possui alguma coisa que merece ser elogiada. Elogios significam compreensão. Somos excelentes seres humanos no nosso íntimo, e ninguèm é melhor do que os outros; aprende a ver a grandeza do teu próximo, e verás também a tua própria grandeza.
Kahlil Gibran (1922)



O problema da velhice é que, por medo da morte que se aproxima, as pessoas passam ater medo de viver. Não entendem que o final de uma etapa é que torna possível o próximo passo; a Natureza nunca dá saltos. Da mesma maneira que não quebra os galhos jovens, tampouco impede que uma árvore, velha e cansada, deixe de existir.
Kahlil Gibran (1921)

26/01/2007

RIR DO RISO

Alegre saber, se não tiver os odores de uma alegre morte.

Relativamente aos prematuros, CL.Amiel-Tison calcula que a mímica complexa do sorriso existe desde a idade de 34 a 35 semanas de gestação. A relação entre a data do nascimento e o momento do primeiro sorriso também foi estudada por B.M. Crow e J.J. Gowers em 78 prematuros dos quais 49 tinham pouco peso em relação aos bebés de termo. Não foi observada qualquer diferença significativa entre os prematuros de baixo peso e os outros: quanto mais o bebé for prematuro, mais tardio será o seu sorriso.

Ao despontarmos para a vida, o sorriso é misterioso , a alegria improvável e o riso impossível. Dito de outra maneira, as “coisas” começam mal. É preciso primeiro chorar, é a vida.
Riso e sorriso ( comportamentos motores) são movimento muscular; a alegria é/ou não um afecto?
O sorriso é um acto que se dá a ver num movimento facial: o riso é um acto que se dá a ver num movimento facial e corporal, mas também um acto que se dá a ouvir; a alegria ,essa, não se dá verdadeiramente a ver. Será uma multiplicidade de acontecimentos subtis, psíquicos e corporais.
Pode-se também dizer que estar de bom humor, quando tudo corre bem, quase não é uma questão de humor, mas de uma reacção adaptada.
Assim distinga-se o sorriso , o riso e a alegria na sua definição e no estudo do seu desenvolvimento.
Diz-se: “as pessoas felizes não têm história... são felizes”.
Pode-se morrer a rir ao ouvir uma boa piada. O riso amarelo , sorrisos tristes , riso descontrolado, sorriso nervoso, riso maníaco, riso não motivado. Domínio da patologia em relação aos estímulos que o provocam.O corpo pode ser alegre ou triste, e não só com a boca se fala, se ri ou se chora.As mâes sabem muito bem, quando os olhos do bebé estão tristes ou contentes, prova de que a ciência não diz tudo.

24/01/2007

"MODUS VIVENDUS"


CURA VITAL

“A tua inteligência está sempre contigo,
vigiando o teu corpo, ainda que possas
não ter consciência do seu trabalho.
Se começares a fazer alguma coisa que
vá contra a tua saúde, a tua inteligência
acabará por te censurar.”
Rumi (1207-1273)

VIA PARA A SAÚDE

A verdade está dentro de nós, não tem origem
No que é exterior, acreditemos no que acreditarmos.
Há, em todos nós, um centro interno
Onde a verdade habita em plenitude; e, à volta,

Muro sobre muro, a carne grosseira debrua
Aquela percepção clara e perfeita que é a Verdade.
Uma malha carnal, enganadora e perversora,
Tudo cinge e tudo induz em erro, mas, conhecer
Consiste mais em descobrir um caminho
Por onde o esplendor aprisionado se evade,
Do que em alcançar a entrada para uma luz
Que se supõe não ter.
Robert Browning (1812-1889)


É POSSÍVEL

Desde os meus 18 anos que tenho sempre o mesmo peso.
Isto consegue-se não olhando ao problema estético de
ser baixo ou alto, magro ou gordo. É uma filosofia mais

profunda de vida que não pode estar sujeita à “carne”.
Não se trata também de querer viver para sempre, mas
tão simplesmente viver bem o Agora, que pode durar
o que durar... não importa. A rejeição do “acumular ”
tudo , coisas , roupas , enfim os bens materiais, tem que ser
combatido em nós próprios, no nosso corpo.
É científico que engordamos ( acumulamos) não tanto
pelo que comemos, mas sim pela maneira como “pensamos”
a nossa vida.
O Pilar do “Espírito” é o nosso corpo, pois ele, o Espírito
vindo e indo, de e para os mais díspares lugares, passa
sempre pela ponte que é o nosso corpo.
Com a ponte danificada, difícil será alcançar a “ outra margem".
Kimang (2007)

23/01/2007

KIMANGUISSES


"Nzumbi"

Era ouro que vinha nas águas
rindo na varanda da imaginação
batida pelo sol.

Olharam-se ambos...

O vento do cacimbo
penetrou,
suave nos nossos corpos.

Não te levantaste, ninguém falou,
ficamos, juntos ,quietos
deixando embranquecer os cabelos,
sorrindo.

Febril delírio, tudo
nos vem à memória, as palavras
belas e rudes, são
mistérios para nós.
A velha Mãe , Vida,
olhando-nos... sorrindo.

A cabeça ardia-nos em febre
os corpos já esquecidos,
no hálito quente, toque leve
de nossas almas.

Olharam-se ambos...
Kimang

22/01/2007

RAÍZES DA VIDA


O que reserva o futuro à magnífica vida selvagem do grande continente Africano?

Um babuíno-gelada nas montanhas Simen da Etiópia simboliza o conjunto de animais selvagens nascidos em tempos de incerteza,
Salvos por hora, devido ao fim da guerra civil, os babuínos enfrentam
ameaças a longo prazo.

A CORRIDA INTEMPORAL das leoas atrás dos cudus-grandes, no Parque Nacional de Etosha, na Namíbia, pode não ser duradoura.
Menos de 900 leões vivem nestas terras áridas, onde os recursos escassos forçam a competição entre seres humanos e animais, e os agricultores abatem os animais que atacam o gado.

As manadas reunem-se na Primavera durante a migração do Serengeti, quando um milhão e meio de gnus, zebras e gazelas se deslocam ao longo de quilómetros através das planícies da Tanzânia. “ Se mantivermos o seu habitat e protegermos o abastecimento de água, estas manadas ficarão a salvo para a posteridade” , diz o zoólogo Tony Sinclair.
(National Geographic)

A força que o ser humano empenha na sua própria existência, na procura da posteridade, deveria ser extensiva, sem qualquer excepção, às outras espécies.È perigoso caminharmos para a posteridade em desiquilíbrio e
deixarmos a “nossa arrogância” toldar o nosso discernimento.

19/01/2007

ALGUÉM , DISSE , DIZ , DIRÁ

A forma primeira em que a realidade se apresenta ao ser humano é a de uma completa ocultação, ocultação radical; pois a primeira realidade que se oculta ao ser humano é ele mesmo. O ser humano escondido anseia por sair de si e tem medo disso, mesmo que a realidade inteira não envolvesse nenhum alguém, ninguém que pudesse olhar, ele projectaria esse olhar: o olhar de que ele é dotado e que quase não pode exercitar. E assim, ele próprio, que não pode ainda olhar-se, olha-se a partir do que rodeia.

E chego a este passo doloroso. Há algo de voluntário ou antes, consentido, nesta descida a uma rejeição, neste retorno de que não sou responsável e que sei valer e que não sei nomear e mover-me no orgulho e na paz que tráz um nome, e sabe o que me vem à ideia? Sou filho de mãe incógnita, nunca saberei por que tenho razão e amedronto.

Pela linguagem poética, calcada no silêncio das entrelinhas, que não se reduz ao sensível, nem ao intelígivel, que alimenta o inédito, oculta-se a origem de um modo próprio de ser, tanto ao nível de ser da criação poética quanto ao nível do ser humano.


Meu sorriso cristalizara a sala em silêncio , e
mesmo os ruídos que vinham do parque escorriam
pelo lado de fora do silêncio.

ALGUÉM ESCREVEU

Sábado, Novembro 04, 2006

Mercadão de Almas
"Porque os anjos têm asas como as aves.Porque os homens têm pêlos como os bichos.E todos nós temos alma como Deus!"
(São Francisco de Assis)

Há homens morrendo em todos os cantos do planeta. Mortes horrendas, desnecessárias. E há homens que, enquanto não morrem, assistem ao espetáculo da violência, faces da morte distribuídas por canais de TV, pedaços de corpos disputados por jornais e revistas. É este o programa da família. Crianças acostumadas, desde a mais tenra idade, ao sadismo de seu semelhante.Será esse o motivo? Eu procuro um motivo que justifique a frieza do homem diante do sofrimento do outro, seja lá que outro for. Foi assim com Sócrates, Cristo, Zumbi, Gandhi, Martin Luter King, Tiradentes, Lennon, garotos arremessados de um trem em movimento e tantos outros que, a seu modo, exerciam ou lutavam pela liberdade e pela paz, mas foram premiados com a cruz, com a faca, com a bala, com a bomba, com a tortura.Quais são mesmo os motivos? Ainda não sei. Ser humano sem humanidade? É um triste paradoxo. Como se um peixe que não soubesse nadar, como uma águia que se recusasse a voar. Estou perplexa.Aqui, no Mercado da Cantareira, em São Paulo, acompanhada de meu amigo Christopher, essas interrogações me invadem. Esses porquês.Como é que esses homens, sem humanidade, vão-se comover com animais amontoados em gaiolas, implorando por socorro, por misericórdia?Há, por exemplo, um box especializado em venda de animais para rituais religiosos. Há pequenos bodes, cabritos e galos pretos à espera do sacrifício. Os primeiros nem lutam mais pela vida. Chegaram a lutar antes de entrar num caminhão, a milhares de quilômetros daqui. Chegaram a lutar dentro do caminhão - com berros, com chifradas - por ar, por água, por comida. Agora, presos numa cela de azulejos brancos, eles se ferem um aos outros.Estão cegos, paralisados pelo medo e pela dor. Acaricio a cabeça de um deles, que não reage. Parece um animal empalhado. Só sei que está vivo porque o corpo esquelético, respira.Uma pessoa se aproxima. Olha os galos pretos, que gritam inconformados. Eles são valentes. Ela escolhe um. O dono do box - um homem branco, gordo, com uma expressão tão fria quanto a de um manequim de loja (terá filhos? Terá um amor?) - o dono do box abre a gaiola e agarra o animal pelas pernas. O galo bem que tenta reagir: grita, bate as asas, imponente. O dono, então, levanta-o e, com precisão, arremessa sua cabeça contra a parede. Não, o bicho não morre. O homem é "bom" no que faz. Deixa-o em estado de choque, entre a vida e a morte. Porque seu novo dono o quer vivo: o ritual exige seu sangue quente.O funcionário do box, mais falante, diz que tem dó dos bichos. Mas o que se há de fazer? "Nós cuidamos deles, passamos remédio nos olhos feridos. Mas eles se ferem novamente", explica o rapaz, o erro dos bichos.Chega? Não. Há também os coelhos. Um deles, cujo valor foi estabelecido em trinta Reais, lambeu meus dedos quando o peguei no colo. Nunca tinha visto isso. Queria levá-lo comigo; entretanto, Christopher me disse que seria um incentivo à continuidade daquele comércio. Não levei. Hoje, sinceramente, arrependo-me.Eu não queria ver mais nada. Mas ninguém entra num local desses impunemente. É preciso ir ao Mercado Municipal, próximo ao da Cantareira, onde também há animais. Estes, por sua vez, estão todos mortos. São exibidas cabeças de porcos dentro de um freezer transparente com o nome de "Porco Feliz". E um anúncio grande num outro box, com os dizeres: "temos filhotes de javali". Sim, tem gente que faz sua ceia de Natal com filhote de javali.Estou cansada. Não agüento mais ver essas fotos nem escrever sobre o que vi. Eu só espero que as pessoas - nas festas de Natal e Ano Novo - valorizem mais o amor do que cadáveres sobre a mesa, façam mais amor do que rituais sangrentos. Porque a vida nos dá o que damos a ela. Só teremos um ano melhor se plantarmos, uma a uma, as sementes dos frutos que queremos colher.Eu desejo a todos vocês que saibam semear com sabedoria.



Adriana BernardinoVEGANPRIDE.COM
FONTE: http://www.veganpride.com/inicio.asp

18/01/2007

CONFUSÃO


...Nos Açores..

O aborto nos Açores “ não faz qualquer sentido” devido `a prevenção feita nos Serviços de Saúde...
-Dr. Carlos Lima-

Que inocente que sou, julgava que a questão do aborto, negação do surgimento/continuação de uma vida, era um assunto de índole moral!??
Afinal não, existem concepções logísticas, envolvendo a questão Temos aqui provavelmente mais uma “prenda” de nós “países desenvolvidos”, para “essa gente” do “terceiro mundo”, subdesenvolvidos. Lá sim, provavelmente, “justificam-se” os abortos.
A ciência afirma que a concepção duma vida ocorre no momento do encontro entre os 23 (óvulo) e os 23 (esperma) cromossomas.
Os leigos ( somos todos) dividem-se : um dia . dez dias , três semanas, cinco semanas, eteceter e tal.. Uma variada riqueza de ideias, comprovando a nossa babélica utilização das palavras.


Pergunto eu:

Os 23 + 23 cromossomas já existiam antes do encontro : é inegável. Se um dos lados antes do “dito encontro” através da química (comprimidos ,injecções) altera, evita a fecundação. “Homicídio intencional prematuro”.
A verdadeira “factura” por termos começado a alterar o processo criativo ainda nos vai ser apresentada: Também esta mania do ser humano brincar, alguns julgam-se mesmo, aos “Deusinhos” só podia ir por aí: CONFUSÃO TOTAL.

...das Nações Unidas...

Num relatório ontem publicado e em relação ao ano de 2006 no Iraque foram mortos 34.452 civis tendo ficado feridos 36.685.
Sadham foi enforcado por mandar matar 150, 1000 ou 5000 civis.

Pergunto eu :

Foram mortos , quer dizer mandaram matar ; quem ,enforca quem, no caso do Iraque?
-É a guerra ! Justificado fica por omissão o assassínio.

Aborto, interromper, guerra, mandar matar, enforcar, civis, fetos, os cromossomas, antes, depois , agora, morte , vida são meras “palavrinhas” para nós brincarmos.

17/01/2007

Kimangolas Poesia


Na cidade onde existo,
não há portas, nem sisas a pagar,
ou projectos encetados,
nem as regras a mandar
como doutores enfeitados.
Na cidade onde existo,
brincam crianças, brincam,
aprendem docemente a pensar.
Nunca, nunca se abdicam,
de aquela estrela olhar.
Na cidade onde existo,
o vento será a cama,
onde alivio o cansaço,
modelando o Eu com a lama
dos arredores, O Cosmos...Faço!
Na cidade onde existo,
nos arredores, O Cosmos, brinco.
Na tristeza estou em Plutão,
como escola, em Júpiter me sinto.
Na carência Vénus dá-me a mão.
Na cidade onde existo,
com Neptuno navego
pelas Vias Lácteas...outros Sois,
ao lado da gravidade me entrego,
com o HO2 tiro todos os dóis.
Na cidade onde existo,
nem O Cosmos, a Criança ou Eu,
temos segredos a esconder.
O Cosmos á Criança deu
a liberdade para crescer.
Na cidade onde existo,
ninguém mora...
Brincam, brincam,brincam...

15/01/2007

KWATA KU MUXIMA e SABER VENDIDO






Kwata ku muxima *

...notam com apreensão que a exibição no Lobito, Benguela pela ONG Okutiuka de um documentário que conforma um exercício de educação cívica tivesse sido arbitrariamente proibida pela polícia local. Para a HRW não é muito claro também se o governo de...

...a HRW reprova a prisão a que esteve sujeito durante cerca de um mês, Raul Danda, porta-voz da ilegalizada Associação Cívica de Cabinda, Mpalabanda...
Human Rights Watch


…Amnesty International today released a report revealing the scale and extent of forced evictions in Angola, and expressing particular concern at forced evictions carried out by Angolan authorities, apparently at the request of the Catholic Church in Angola. The organization said that nearly all of the forced evictions were accompanied by excessive use of force, which sometimes involved police beatings of children and women -- including one pregnant woman -- and indiscriminate shooting at residents attempting to protect their homes…



....ao cabo de 30 anos de independência, Angola possui apenas um diário, o «Jornal de Angola». A imprensa privada reduz-se a pouco mais de seis semanários, sem grande capacidade de penetração no mercado e sem rede de distribuição adequada. As ondas da rádio são dominadas pela Rádio Nacional de Angola. À excepção da Ecclésia, da Igreja Católica, as outras quatro estações de rádio privadas, a transmitir em FM, têm linhas editoriais erráticas e pouca consistência. E a única televisão do país, a TPA (Televisão Pública de Angola), moderna em termos técnicos e em rede nacional, é todavia arcaica em termos de grelha ou produção de programas e informação...
ExpressoÁfrika

*expressão em kimbundu: tem coragem

SABER VENDIDO

A hipótese fundamental de Lyotard é a de que o estatuto de saber mudou a partir dos anos 50-60 do século XX. Anteriormente ele deveria fazer parte da formação espiritual de todo e qualquer indivíduo para que chegasse à condição de cidadão participante. Para isso , o indivíduo tinha de se entregar, desde a mais tenra idade , a um lento e gradativo processo de interiorização do saber, tanto de um saber universal e multidisciplinar básico quanto de um saber disciplinar e superior. A escola e os professores, donos de uma informação completa de saber, eram os principais responsáveis por esse trabalho com os alunos que , por definição tinham informações imcompletas. O desnível justificava a autoridade do professor e a obediência do discípulo.Nos países "desenvolvidos", com o aprimoramento dos sectores e a consequente informatização de todas as instituições de ensino, o saber passa mais e mais a viver a condição de uma "explosiva exteriorização". Ele é também mais e mais abundante quanto é mais e mais acessível tanto aos professores quanto aos alunos. Não havendo mais desnível entre professor e aluno em quantidade de informação, o desnível ocorre apenas no modo como a informação é utilizada. Portanto a pedagogia na sociedade pós-moderna não desaparece; mudam-se os seus métodos. O saber perde então a sua condição de "valor uso", passando a ser avaliado como algo que existe para ser vendido e que também existe para ser consumido com vistas a uma nova produção.Nota:O consumismo não tem nada a haver com "professores" e "alunos" sendo um mero " valor de troca"; digo/pergunto eu...?

12/01/2007

VOCÁBULOS

ANGOLA

Os povos Bantu ( Áfrika Central ) ,500 anos da era actual, iniciaram migrações que vieram a originar ( Sec.XIII ) os Kikongos , Ngangela , Jagas , Nhanecas , Hereros , Ovambos , Kyokos, Cuangares (sec. XIX) todos fixados na área de Angola.
Cerca de do ano 1484 começa a ocupação pelo povo Português.
O reino de Angola nasce ( 1559 ) da fusão Reino do Congo , Reino Ndongo e Reino Matamba.
As fronteiras de Angola estão definidas desde os finais do sec. XIX.
E porque é através da língua , do falar , ouvir, que nos educamos, enfim é na comunicação que começa e acaba quase tudo. A Linguagem é assim sem dúvida alguma a alavanca de todos os perdões , porta para o entendimento sereno e portadora de luz.


Ilustração da rainha Nzinga em negociações de Paz com o governador português em Luanda em 1657.

KIMBUNDU / PORTUGUÊS



VOCÁBULOS



ADUELAS –tábuas arqueadas que formam o corpo de certas vasilhas (toneis pipas).
ACACHADO – tapado ,coberto
Á-COTA – mais-velha ( a primeira mulher dum polígamo)
AIBENCA – avenca
AMBANQUIZAR – tornar gongórico, retórico ( que é o estilo de fala e escrita de ambaquistas). Ambaquista - natural da região de Ambaca, cujos naturais são conhecidos pela sua arte oratória e mania requerimentista; iron – aquele que reclama por tudo.
AMULUMBADO – corcunda, curvado
ANANDENGUE – crianças
AQUIUAIADO – aputado; com ar ou maneira de puta
ARREGANHAR- ameaçar
ASSAMBIZANGADO – ao modo dos de Sambinzanga
ASSIMILADO- em 1954 o Estatuto dos povos coloniais das possessões portuguesas estabeleceu que mediante certas condições era possível aos “ indígenas” adquirirem a cidadania, passando à situação de assimilados. Entre essas condições incluíam-se o “ falar correctamente a língua portuguesa”, dispor de rendimentos de trabalho ou bens próprios considerados suficientes e “ter bom comportamento e ter adquirido a educação e os costumes necessários à aplicação integral do direito público e privado dos cidadãos portugueses” (sic)
B
BAGRE- peixe do rio, que vive no lodo
BAILUNDO – Indivíduo do povo Bailundo ( subgrupo do grupo etno-linguístico Mbundo ou Ovimbundo, localizado a meio da metade ocidental de Angola
BALAIO – cesta
BANGA – ademanes de vaidade
BANZO – espantado
BARROS – areias, terras
BASSULA – golpe de luta de pescadores em que se derruba o adversário com um jeito de corpo
BÊ-Ò – abreviação de Bairro Operário ( Luanda
BERRENTA – a que dá berros
BERRIDA – corrida, fazer fugir
BESSANGANAS – mulheres luandenses, normalmente de idade, que mantiveram o uso de panos, vestuário tradicional. BESSANGANA é “beça ngana!” (“ a sua bênção, senhora!”) porque assim eram saudadas, à moda antiga
BIENO – do Bié
BILHA – berlinde
BINDA - pequena cabaça
BISSAPA – arbusto
BITACAIA – pulga que penetra nos dedos
BOMBÓ –mandioca que ,descascada ou não, conforme a região, fica de maceração uns quatro dias, podendo ser seca ao sol ou não, também conforme a região. Come-se assada , acompanhando qualquer alimento. De “Kubombeka” .- pôr de molho
BRINCOS_DE_MULATA – flores de arbusto de jardim, comum em Luanda
BRUGAU – corruptela de burgau
BUFIO – bufo , sopro , ar
BUNGULAR – saracotear-se. Aportuguesamento de “kubungula”
C
CABEBELE_TAXI – jogo de pedrinhas comum em Luanda e arredores
CABEÇA_DE_PUNGO –peixe bastante abundante nas águas de Mocâmedes ; por extensão , os naturais de Mocâmedes
CABETULA – dança de carnaval, tradicional
CABIRI – diz-se dos cães rafeiros, vira-latas, Kabiri ou Kabidi
CABOBO – aquele que não tem dentes
CABRITA, CABRITO –diz-se dos filhos de mulato/a e branca/o
CACIMBA – lagoa formada pela chuva, grande buraco escavado para conservar água; poço cisterna
CACIMBADO – cheio de cacimbo, enevoado (forma popular) maluco
CACIMBO – estação de frio, Inverno tropical: relento; orvalho
CACUSO – natural de Kakusu ( Malange)
CACUSSO – peixe de que existem duas variedades : uma de rio, outra do mar.
De kukusula – ser encarnado. Alusão `coloração.
CADAQUAL – cada um
CADAVEZ – talvez
CAFOFO – cego , invisual ; diminutivo de quifofo, ceguinho
CAFREALIZADO – africanizado ( depreciativo)
CAFUCA – insecto que , na areia solta, se esconde fazendo um vórtice onde caem outros que devora depois
CAFUCAMBOLAR – cambalhotar
CAFUSO - filho/a de negro/a e mestiça/o, que escurece
CAHOMBO – jindungo grande. O jindungo pode ser de cahombo e de calequeta. O primeiro é arredondado, com um cheiro a cabra, de onde vem o nome (“kahombo” = cabrito). Dado o seu cheiro característico , o jindungo-de-cahombo reluta muita gente. Contudo é bastante saboroso
CALEMA – ondulação marítima bastante agitada
CALEQUETA – jindungo comum, normal.. Este, oblongo, é bastante picante, razão do seu epíteto, por alusão à circunstância de, com o ardor, se deitar a língua de fora – acto que, quando visando a prova de alimento , se denomina, em kimbundu, “kuleketa”
CALUANDA – natural de Luanda
CALUANDANO – de luanda
CALUNDU - do kimbundu “ kalundu, kilundu/ilundu – espírito. Mesmo sentido
CAMABUÌNHI – o que não tem dentes ; o que tem falhas de dentes
CAMAUINDO – o que tem o pé cheio de pulgas ou buracos, feridas provocadas por pulgas (bitacaias)
CAMBOTERMOS – desavergonhado, sem vergonha
CAMBULAR – atrair , adular , lisonjear , chamar , arregimentar , aliciar. Do kimbundu “ kukambula” – apanhar uma coisa em movimento
CAMBUTA – baixo , pequeno. Do kimbundu “kambuta”
CAMBUNTITA – diminutivo de cambuta
CAMUNDONGO – nome dado aos naturais de Luanda, especialmente pelos habitantes do sul e que envolve um certo sentido pejorativo. Natural da região abrangida pelo antigo reino do Dongo, que ia de Kalandula a Luanda. Deturpação do Umbundo “oka” (depreciação) + “um” ( naturalidade) + Ndongo ( o dito território)
CAMUELO – invejoso, açambarcador, o que não gosta de dar , o que não é generoso. Do kimbundu “ muelu” – soleira da porta ; por extensão, alusivo à estreiteza
CANDENGUE – “ndengue” é o mais novo, jovem , criança
CANDINGOLO – bebida fermentada a partir do milho
CANGUNDO – branco de baixa condição, ordinário
CAPANGA – o golpe de luta e ,simultaneamemte , o arco descrito pelo braço dobrado que passa à volta do pescoço. Tb. Nuca , pescoço
CAPARANDANDA – muito antigo, antepassado
CAPIANGO – roubo , deliquência , furto
CAPIANGUISTA – gatuno ; aquele que vive do capiango
CAPIM – designação genérica de numerosas plantas, em geral forraginosas. Revestem frequentemente grandes superficíes nas regiões tropicais, formando pastagens naturais. Ervas que atingem grandes alturas certas épocas do ano , a seguir às chuvas
CAPUTO – “ puto” é português, o governo português, portanto branco português
CAP’VERDE – pronuncia luandense de Cabo Verde; cabo-verdiano.
CAQUINDA – cesta pequena
CARIBALA – careca , calvo. Do kimbundu “karibala”
CARIENGUE .- de aluguer, assalariado. Do kimbundu “kadiengue.
CASCABULHO – a palha que resta do descascar do dendém
CASSANDA – em Luanda, branca de má educação, ordinária. ( Ao que parece, muito antigamente, este termo designava as brancas e mestiças que andavam vestidas de panos
CASSAFO – galinha ordinária; que tem as penas eriçadas; que não é de raça
CASSÊXI – corçazinha, pequeno antílope
CASSUMBULAR – tirar, por meio de jogo infantil, a cassumbula
CASSULA – último filho. Nome dado a esse indíviduo
CASSULE - o mesmo que cassula
CATETENSE – natural de Catete ( perto de Luanda)
CAUETO – aquele que usa vestuário muito apertado, à moda dos anos 1920/30 . De kuuhetuka – ficar muito justo
CAXINJIANGUELLE – esquilo ; pequeno roedor que mora nas palmeiras
CAZANGA – ilha do mar de Belas (Corimba)
CAZUCUTA – dança de carnaval com muito ritmo e pouca melodia
CAZUMBI – alma de antepassado , alma errante, espírito. Aportuguesamento do kimbundu “nzumbi” resultante de “kuzumbika” - importunar, perseguir
CÊ-EFE-BÊ – caminhos de ferro de Benguela
CÊ-EFE-ÉLE – caminhos de ferro de Luanda
CHICRONHA – natural do Lubango. Corruptela de colono
CHIPANZO – chimpanzé
CHITACA – pequena fazenda, geralmente hortícola
CHUVA-DE-CAJU – é um chuvisco real que pode durar um mês e que antecede as verdadeiras grandes chuvas (janeiro e fevereiro) e que volta a cair depois. Mas chega para fazer nascer folhas novas aos cajueiros, e flor! Daí chuva de caju
CIPAIO – soldado africano, encarregado de executar as ordens das autoridades admnistrativas
CINZIDA – cinzida de cinza
COCAIAR – espreitar . Do kimbundu “ kukaia” , mesmo sentido
COCHILAR – dormitar , cabecear
COMBAIRRO – do mesmo bairo
COMBAIRRO –trabalhador sujeito ao regime de contrato, a forma dominante de trabalho a que eram sujeitos os trabalhadores africanos durante o regime colonial e caracterizada pela arregimentação compulsiva feita pelas autoridades admnistrativas a favor de empresas privadas e pela exploração brutal
CUACAR – voz de pato em verso
CUATADO – corrido ,expulso. De “ku kuata” , expulsar , correr atrás
CUBAR – rogar pragas , geralmente batendo as mãos no chão ou alçando-as encostadas a par. Para maior eficácia , o esconjuro deve ser feito em lugar consagrado a ídolos, ou na igreja, ou no cemitério
CUBATA – palhota , choupana , residência modesta. “ kubata – em casa
D
DEMBADO – região , área sob a autoridade de um Dembo ( grande chefe tradicional)
DIÁ-KSÓDIO – qualidade de abóbora
DIÁ-KIMBUANGO – qualidade de abóbora
DIÁ-KIMBUATA – qualidade de abóbora
DIAMBA – erva que se fuma, cânhamo, marijuana
DIAMBEIRO – o que fuma diamba
DICANZA – instrumento musical, espécie de chocalho de bordão de um metro de comprimento. É transversalmente sulcada a todo o comprimento, sendo oca a parte central , pelo que se talha uma abertura na face posterior. Maneja-se pelo atrito de uma vara delgada
DINHANGULA – abóbora
DINHUNGO – espécie de abóbora que se usa nos cozinhados
DIUTA – o mesmo que riúta, cobra venenosa existente em aAngola
DIXITA – do kimbundu 2dixita” – monte de lixo lixeira
E
ENXALADEAR – tornar xalado, louco, doido. Tb xaladear
ESFÍNGIDO – esfíngico fingido, fingoindo esfinge
ESLOCHO – de “slosh” ( João Guimarães Rosa) – ruído de coisa lamacenta
F
FANGUISTA – ladrão , ratoneiro
FEFENHAR – chupar ossinhos/espinhas com ruídos de prazer
FERRÃO – espécie de andorinha
FIMBAR –mergulhar. Do kimbundu “fimbar”
FIOTE – grupo etno-linguístico da região de Cabinda
FITUCAR – ficar zangado, bravo
FORRA – livre ; liberto ; não escravo
FUAFAR - ferver , espumejar na fervura
FUAFO – espuma
FUAFUAR – espumar, fazer espuma
FUBA – farinha ( ordináriamente de milho, massambala, massango, mandioca e batata-doce
FUCUMBA – rola (pássaro)
FULO/A – filho/a de mulata/o e Negra/o
FUNGUISSADA – mistura , misturada. Do kimbundu “ ku fungisa” -misturar
FUNJE (FUNJI) – massa cozida de farinha, denominada fuba, geralmente de milho, massambala, massango, mandioca ou batata-doce. Acompanha várias iguarias. Pelo seu poder de saciedade, entra diáriamnte nas refeições das pessoas de recursos mais escassos
G
GAIAVA – goiaba
GAJAJA – fruto da gajajeira , muito ácido
GAMARTO – calão para português recém. Chegado a Angola
GANGA-ZUZENSE – natural de Nganga-ZUZE (Icolo e Bengo)
GANJÉSTERES – corruptela de ganguesteres
GAPSE – golpe de luta
GUNBATETE – abelha obreira ; insecto que faz ninho de barro.
H
HONGA – baixa cultivada com canteiros de horta
I
IÁ-NDENGE – mais-novo ; menor
ICOLIBÊNGUICO – relativo a Icolo e Bengo
ILUNDO- em kibumdu “ ilundo” é o plural de “kilundu” – espírito
IMBAMBAS – cargas , pacotes , embrulhos , coisas. . O mesmo que bicuatas, em linguagem de formação umbunda
INFUNDÓRIO – o mesmo que “funje”
IXIMBI – plural de “kiximbi” - espírito tutelar que habita as águas
J
JÁ-SAMBA – de samba, qualidade de jindungo
JIBUIA – barulho , confusão
JIFI – planta fibrosa que serve para fazer artesanato; fibras que servem de chicote
JIMBOA – erva que serve para alimentação
JINDUNGO – fruto do jindungueiro, malagueta pequena
JINGONDO – jingado, ouro falso
JINGUBA – fruto da jingubeira , amendoim
JINGUNA – insectos que saem após a chuva, formiga de asas
JINZÉU - - formiga preta que morde muito
JITOJITO – a ardência do jindungo
JONJAR – comer debicando, aos poucos . Do kimbundu “ kunjonja
JUJUTO – corruptela de “ jujutsu
JUNCO - rabo-de-junco, passarinho de cauda comprida
L
LAMBANÇA – barulho , confusão
LARAR – defecar, cagar
LEIO – alheio, que não pertence ao próprio
LOBITANGO - do Lobito
LOGO-É – até logo
LOGO-LOGO – imediatamente
LUANDANO – natural de Luanda
LUANDO – esteira de pairo que se enrola na longitudinal
M
MABOQUE – fruto do arbusto do mesmo nome, que se come simples ou temperado com açúcar
MABUBA – cachoeira , cascata
MABUÍNHI – gengiva sem dentes
MABUÍNHICO - de mabuínhi, o que não tem dentes
MABUNDA – trouxa , pacote , embrulho
MACA – confusão palavrosa, discussão acesa. Do kimbundu “maka” – conversa ,fala ,palavra ,dito
MACANHA – tabaco
MACULUSSENSE – natural do Maculusso, antigo bairro de Luanda
MACUNHATANO – quer dizer :quinze. Dizia-se das moedas equivalentes a 1$50
MACUTA – antiga moeda , com diferentes valores, que circulou em Angola até aos anos de 1940
MADÍA – pronúncia luandense de “Maria”
MAFUMA – mafumeira
MAFUMEIRA – árvore de folha caduca na época da floração, atingindo 30 mts. De altura e mais. Da penugem que reveste as suas sementes faz-se a sumaúma e o caule é aproveitado, por escavação, para o fabrico de canoas
MAIS-VELHO – ancião , patriarca, pessoa que pela sua idade é cheia de saber e experiência e credora de respeito
MALANGINO – natural de Malange. Tb malangense
MALEMBELEMBE . O mesmo que malembe-malembe – muito devagar, com cautela
MANDIOQUEIRO – planta cujo tubérculo é muito utilizada na cozinha tradicional quer ao natural ( cru , cozido , ou assado ) quer reduzido a farinha ( de mandioca
MANGONHA – preguiça , calaceirice
MANGONHEIRO – preguiçoso , indolente, lento
MANHENTO – que tem manhas, malicioso
MANO (A) – tratamento afectuoso que as gentes do povo se dão entre si
MAPUPO –uma espécie de abóbora semi-selvagem pouco utilizada na cozinha
MAQUEZO – cola (fruto africano)
MAQUILAGEM – disfarce cosmético, maquilhagem
MARIMBONDO – vespa
MARUFO – vinho de sumo de caju, ou de seiva de matebeira, palmeira ,palmito ou bordão. Tb Maruvo ou maluvo
MASCARIA – magicaria, práticas de magia
MASÓXI – lágrimas
MASSAMBALA – milho-miúdo, de grãos redondos; utiliza-se na fabricação da fuba
MASSANGANO – confluência
MASSEMBA – bailado Angolano , caracterizado por sembas ( umbigadas)
MASSUÍCAS – pedras que servem de trempe. Trempe regional
MATACANHA – puilga dos pés
MATACO – nádegas, traseiro , cu
MATETE – papas , massa de farinha cozida usada frequentemente na alimentação da gente pobre.
MATIAS – pássaro da região de Luanda
MATUENSE – aquele que é natural do mato, , no sentido , interior de Angola
MATUMBO – indivíduo boçal, de costumes grosseiros, selvagem, ignorante
MATUTO – ou que matuta, i.e. pensa
MAUINDO – pulga que penetra nos dedos e cria um pequeno saco onde põe os ovos
MAXIMBOMBO – autocarro, ónibus
MAZÔMBICO – mazombo ; apagado, sem genica, estúpido
MAZOMBO – estupido, tímido, parvo
‘MBORA – aimda
MENEQUENO –adeus, gesto de despedida, saudação
MERENGAR – dançar o merengue ( dança africana)
MILÉLICO – de “ milele” – panos que se usam como vestuário
MILONGO – remédio
MIONDONA – espíritos tutelares de cada pessoa
MISEKE – plural do kimbundu “ museke” – musseque
MOMA – jibóia, grande cobra
MONA - filho , criança, bebé
MONANDENGUE – criança , filhinho , garoto
MONANGAMBA – todo o que se dedica a trabalhos pesados, serviçal, carregador, estivador. Do kimbundu “ mon’a ndenge – filho de carregador
MUADIÊ (MUADIÉ) – senhor . Do kimbundu “ muadi” -amo , senhor , patraõ
MUAMBA – guisado de galinha ou de carne de vaca ou de peixe, adubado com água oleosa de dendém . Come-se com funge ou arroz –branco
MUANZA – árvore que dá sombra ao café ; mogno
MUBAFO – qualidade de árvore resinosa
MUBANGA – qualidade de árvore
MUBUBA - árvore
MUCAMA – escrava, reduzida a concubina pelo patrão
MUCEFO – qualidade de tamarindo mais ácido
MÚCUA – fruto do Imbondeiro
MUCUETO - - amigo do kimbundu “ mukuetu” = nosso amigo
MUENANTE – indivíduo meio boémio, meio vadio, Em Luanda é um tipo que entra nas festas e come sem pagar.
MUENEXI – o dono , o senhor da terra
MUFUMA – mafumeira
MUFUMEIRA – mafumeira
MUGENGE – gajajeira
MULEMBA – árvore de copa frondosa. Siómoro. Do kimbundu “ kulemba” – escurecer ( alusão à densidade da sombra
MUNGUBA – árvore de boa madeira
MUNGUELAS – árvores de boa madeira
MUQUIXI – dançarinos tradicionais, disfarçados
MURINGUE – bilha de barro para água
MUSSALO – peneira de palha, em forma de garrafão, com o fundo crivado . Do kimbundu “ kusala” – peneirar
MUSSEQUE .- bairo popular periférico, bairro-de-lata geralmente instalados em terrenos de areia. Do kimbundu “ um” –onde + “ seke” – areia

MUSSOLO – é um peixe de rio que vive nas lagoas e rios que no tempo seco fica metido no barro, daí o seu sabor característico
MUSSORONGO – um dos povos do grupo Kikongo
MUSSUEMBA – árvore
MUSTIÇADA – o mesmo que “ mestiçada”
MUTAMBA – tambarineiro
MUTETA – prato regional angolano. Almôndegas de pevides de abóbora
MUTOPA – cahachimbo
MUXACATO – obejecto que os feiticeiros e os quimbandeiros utilizam para a adivinhação. Compôe-se de um pedaço de aduela, de uns 20 cts de comprimento com uma concavidade longitudinal ao centro, onde, por atrito, se faz correr em toda a extensão um pauzinho denominado filho. Do kimbundu “kuxakata” – arrastar os pés. Alusão ao fricionamento
MUXILUANDA – designação do grupo étnico que habita as ilhas do Mussulo e de Luanda; distinguem-se dos da cidade, os chamados caluandas, que vivem nos musseques
MUXIMAR – lisonjear , gabar , falar ao coração
MUXITO – mato, floresta , matagal , selva
MUXOXAR – fazer um ruído de desprezo com os lábios, de um modo característico
MUXOXO – chio de boca manifestando desprezo, produzido por compressão do ar das bochechas. Do kimbundu “kuxoxo “ – escarnecer
MUZONGUÉ – caldo , sopa
MUZUNGE (MUTSUNDJI) – árvore madeirense
N
NGA – abreviatura de “ngana”
NGANA – senhora/senhor
NGOMA – tambor comprido, aproximadamente de um metro e meio, feito de cepo desmiolado de mafumeira, adelgaçado numa extremidade que fica aberta, e, na outra extremidade, vedado com pele tensa de veado ou corça
NITRIDOS – ruídos de bestas
NGUETA – branco ordinário. V. Guueta
O
OITIVA – de ouvido
P
PALAVRA-PODRE – palavrão, obscenidade
PANOS – vestimento tradicional das mulheres, consistindo de panos que envolvem o corpo, das axilas ao tornozelo
PARTIOSO – cheio de partes, de manias, de poses
PAU – árvore
PAU-A-PIQUE – método de construção em que o esqueleto é de pau e canas que se barreiam
PÉ-DE-QUEDES – pé calçado com sapatilhas de pano e borracha
PEIXE D’ONTEM - peixe frito que se deixa em molho de cebola e tomate durante dias a macerar
PIÁPIA – andorinha
PICA – colibri ( passarinho muito pequeno)
PIGARÇO – grisalho
PILÃO-E-MUSSALO – de ser feita no pilão e depois peneirada pelo mussalo, peneira tradicional
PÍRULA – pássaro angolano
PLIM-PLAU – pássaro de grande cauda
Q
QUEDE – sapato de pano e sola de
QUIABO – fruto do quiabeiro, muito usado na culinária Angolana
QUIANDA – sereia, divindade aquática
QUIASSA – diz-se , em kimbundu, de uma pessoa albina
QUIBABA – árvore de boa madeira
QUICONGUENSE - pertencente ao grupo etno-linguístico dos Kikongos, - Cabinda e Noroeste de Angola
QUIENZE – separação exagerada entre dois dentes
QUIÊNZICO – com “qienze”
QUIFUANE - árvore de boa madeira
QUIFUFUTILA – mimo muito apreciado, feito de jinguba, açúcar mascavado e farinha torrada tudo pilado e reduzido a pó fínissimo
QUILAMBA – o que sabe interpretar augúrios de quianda
QUILAPANGA – dança antiga , possívelmente de origem san-tomense
QUILEBA – alto , colocado alto. Do kimbundu “ku leba” – ser alto
QUILUMBA - moça , rapariga nova
QUIMBANDEIRO – curandeiro, adivinho-curandeiro
QUIMBANDESCO – vem de quimbanda. Criação
QUIMBIAMBIA – borboleta
QUIMBIÂNBICO – relativo ao esvoaçar da borboleta
QUIMBO - pequena povoação ; aldeia
QUIMBOMBO – bebida fermentada de milho mais forte que o quitoto
QUIMBUNDO – lingua nacional angolana, cuja área linguística se estende pelas províncias de Luanda , Bengo , Malanje e Kuanza-Norte. Tb pessoa deste grupo
QUINADO – vinho português assim chamado por conter, em mistura , quina
QUINDA – do kimbundu “kinda” – cesto. Mesmo sentido
QUIMDAMBIRENSE – natural de Kimdambidi
QUINDELE – chama-se assim à fuba muita branca, especialmente de milho
QUINDUCUTA – baixota e gorda
QUINDUCUTESCA – de quinducuta
QUIMDUMBA – cabeleira. Do kimbundu “ kimdumba – penteado , toucado
QUINJONGO – gafanhoto. Noutra acepção, designa o tecido de má qualidade
QUIPIAQ – tipóia
QUIPUPO –tarolo de milho
QUIQUERRA – mistura de farinha de mandioca, açúcar e jinguba
QUISSEMO – do kimbundu “ kisemu” – dito jocoso, crítico ou insultuoso
QUISSENDE – recusa, negativa, tampa. Do kimbundu “kisende – calcanhar
QUISSONDE – formigão avermelhado, de mordedura dolorosa
QUITANDA –mercado, feira , praça ,posto de venda.de géneros frescos , pequena loja ou banca de negócio
QUITANDEIRA/O - aquele/a que vende na quitanda
QUITANDE – guisado de puré de feijão , temperado com azeite de palma
QUITATA – prostituta
QUITEXENSE – natural do kitexi
QUITIBA – árvore das matas dos dembos
QUITOTO – bebida fermentada de milho, mais fraca que o quimbombo
QUITUTA – génio ; vive por toda a parte
QUITUTE - doce ; especiaria ; guloseima
QUIXIMBI - o mesmo que quianda
QUIZOMBA – dança animada,alegre movimentada
R
RABO-DE-JUNCO - pássaro de cauda comprida e plumagem acastanhada
RANGELISTA – do Rangel ( musseque de Luanda)
REVIENGA – movimento rápido de finta e engano
ROSQUEIRO - sodomita ; masturbador ( calão)
S
SÁ – abreviatura de senhor ( português popular de Luanda)
SACAFOLHAS – esparregado de verdura qualquer, quizaca
SAFÚ – fruto silvestre muito doce
SALALÉ – formiga branca , térmita
SANZALA – povoado , bairro indígena. Do kimbundu “kussanga” (tornar habitavel) + kukala
SAPE-SAPE – árvore da família das anonas ; o seu fruto
SAQUIDILHO – cumprimento , saudação
SENTE! – olha! ; escuta! ; ouve!
SERIPIPI – o mesmo que celeste – passarinho canoro muito comum em Angola
SEXA – cabra selvagem de pequeno porte , corça
SIRA – acácia-sira, uma das espécies desta árvore
SÔR – senhor. Tb só e sô
SOSSO – ensosso
SUINGUE – designação abreviada de suinguista
SUINGUISTA – era o dandy , o elegante popular da época em que se introduziu o “ swing” nos bailes
SUMBO – pássro parecido com o martim-pescador
SUNGADIBENGO – nome depreciativo dado aos mestiços na região de Luanda. Do kimbundu “ sunga o dibengu” – puxa o rato
SUNGAR – puxar
SUNGARIBENGO – o mesmo que sungadibengo
SUPIMPA – de bom gosto, que sabe bem
SUPIMPEZ – de supimpe , a qualidade
T
TACULA – árvore que atinge grande altura, de madeira vermelha ou esbranquiçada com veios vermelhos e muito usada em marcenaria
TAMARINDO – o mesmo que tambarino
TAMBARINEIRO – árvore frondosa que dá tambarinos
TAMBARINO – fruto do tambarineiro, bastante ácido
TIMÓTEO – nome próprio usado como adjectivo à toa . Neste caso refere-se a Timóteo Amadeu Amorim , grande batucador de ngomas, do “Ngola Ritmo”
TIPÓIA – palanquim de rede
TONGA – zona demarcada nas fazendas, para desbravar
TOPIA – galhofa, gracejo troça, mofa
TORTOLHOS – olhos tortos
TRIPETENTE – repetente mais uma vez
U
UABILUKAR – visão , transformar-se , metamorfosear-se
UATOBAR – do verbo kimbundu “ kutoba “ – fazer pouco caçoar
UATOBO – gritos , exclamações que se dão gritando : “uatobo!” (“ és parvo! “) e batendo com a mão aberta na boca
UATOUARINHA – muito doce, suave , terno . Do kimbundu “ ku touala “ –ser doce. Tb. Uatouadinha e iatouarinha
V
VAVÓ – avó no português de Luanda
VISGO – cola vegetal, resina de mulembeira
VUZAR – bater , agredir
X
XACATADA – arrastada ( “ku xacata” – arrastar os pés
XACATO – substantivo formado a partir do verbo “ xacatar” –arrastar os pés
XAXUALHO – rumorejo , sussurro
XAXUAXO –rumor ,sussurro
XIMBA – nome depreciativo e insultuoso que era atribuído aos cipaios
XIMBICAR – remar à vara, ordináriamente de bordão , espetando-o no fundo da água ( do rio ou mar)
XINGAR – proferir obscenidades, injuriar , ofender com palavras
XINGILADORA – que invoca os espíritos , medium
XINGO – insulto
XINGILAR – sofrer a incorporação de seres espirituais, cair em transe
XINGUILO – acto de entrada em transe
XUAXO –sussurro , arrulho , rumor
XUCULUCAR – revirar os olhos , como demonstração de rancor ou desprezo
Z
ZUARTE – ganga , espécie de tecido azul
ZUNA – muito depressa , com velocidade
ZUNIR – atirar , arremessar , andar com velocidade


ZUZUTO/A – parvo/a aparvalhada/o

11/01/2007

ANCIÃO / VELHO

MAIS VELHO - ancião , patriarca, pessoa que
pela sua idade é cheia de saber e experiência
e credora de respeito.


VELHO - pessoa de idade ,vivendo em lares esquecidos ou bancos de jardins , sobrevivendo; quase ninguém o escuta: " é o velho".

Assim se dispõe das palavras fabricando diferenças

O Mais-Velho e Velho são afinal o mesmo ser ,
só vivendo em "Governos" diferentes.




,

10/01/2007

KIMBUNDISSES OU PORTUNBUNDISSES?


A propósito da palavra, ela não é de ninguém, mesmo aquela que escrita ou dita no momento. E já agora- a frase só dita e nunca escrita não é verdadeira? E mesmo a escrita perdida, não existe? E o pensamento não revelado, existirá? E o dito que aqui: assim, e mais além, já outra coisa, é também uma verdade?
Recuando, pego em mim lá atrás, no meu começo quando aprendi a ler no voo do colibri... ou escutando a trovoada...no medo do batuque- òbito...mais velho Chimbueko também sua sabedoria me deu...
Depois um desfiar de livros , gentes, calores, cheiros ,guerrilhas, o mundo se mostrando para mim , falei ,vi ,ouvi: Afonso Henriques , Nietzsche, minha Mãe, Jesus Cristo, Platão , o Amigo , Osho , Gungunhana , o salto na lua, o Pavlov, a tia Mabunda, a pílula, o Desamor, Barrabás, Eu, Eles, Nós e os Outros todos.
Plágio da palavra? Como se ela não tem dono? Sempre que a quero, ela foge...
Ser tão livre e carrasco não conheço!


<<...veio o dia. Eu sabia. Primeira vez que passei mão em sua sombra de silêncio, nos picos tão anciãos, mafumeira soube logo. Mas não creditei – era ainda muito tosco material, barro bruto. Porque o Zeca veio. Na cara dos outros eu dava-lhe sôr engenheiro, indiscriminação que ele queria. E ele a mim o tu, ò Tininho. E disse : “Vem cá pa´.” E foi chamar o tractorista do D-6: nhô Antonho. Este quem escolheu serventes: quitexense Dioko , pequenete, de muitas palavras e poucos amigos; o Puati, fiote cabinda, de rosário ao pescoço: o último, um lucalense ou cacuso, os outros lhe chamavam é o Garrafa –de-gás: corpo igual de baixo a cimas, cabeça de passarinho. O nome dele cristão baptizado, era Emanuel. E tudo digo e lembro, modo de o irmão ver que todos não eram iguais em nada. Que o preto-preto era só o Emanuel; o fiote quase mascavado. Quase albino era o Dioko, quiassa...>>

<<... então, no silêncio das vozes das mulheres que já não faziam fuba, ouvi cantar. Cantar! Nadei, pânico. Vinha a voz – aquela voz de leite espesso, o pouco acre dela, música diferente, arrumadíssima. Corri na roupa – ela , corça, saiu dos altos capins, lá mesmo, parece é agora: chapéu era de palha gentia, a fita encarnada; e por baixo é que o lenço enlutava os cabelos cor de mel. Viu-me calou-se, velha subitamente – o vestido todo flores, sem mangas, sem gola, sem roda. Caiu seu bloco de desenhos, caixas de tintas, tudo. Meio metro de minha roupa no chão, era distância infinita de nossos olhos. E ela , a menina Miss, muito devagar como quem levanta todo o peso de sua vida, ergueu o dedo, um só, até tocar meus lábios secos – eu vi o céu girar, seu berro, grito único em minha vida. Berrava; gritava; se rasgava, murmurava – morria a cada vez, morreu vezes e vezes, sempre assim. Porque ela queria morrer, era sua nova felicidade – morrer; desaparecer; voltar num princípio de vida só dela, ovo...>>

Nestes excertos de uma história de Luandino Vieira , eu vejo, e reconheço tudo, grandes e pequenos :Pode ser um Ecologista um Hermann Hesse da prosa, um Chegvara do dito, um Marx da distribuição da riqueza um Levi Strauss antropólogo, um outro escritor da Sensualidade e tantos outros por dizer.
A palavra arte ou qualquer outra arte nunca pode ser plagiada, ela começa e acaba naquele momento. É una e indivisível.

Já agora: a passagem para ( na velha Europa) três vezes mais da população, de 150 milhões para cerca de 450 milhões e só em 2 séculos não será um Plágio da clonagem Humana?
Pense...

09/01/2007

TRINTIUM DE BOCA

MÚSICA a/o Amante
....Sons? Escuta! Algures ergue-se
Suavemente a fricção de uma corda,
Tem presente um amor,
Compara-se a uma terna amiga.
Em silêncio, como se fosse um ladrão,
Avança vinda da noite,
Estimula ao de leve o meu ouvido,
Saúda-me interrogativa e furtiva.
Ergue-se então, intumescente,
Cresce por uma fricção mais intensa.
Estremece, embalada na vibração,
Quer penetrar-me o fundo da alma...
( Hermann Hesse)


SORRI MEU AVILO

Tremi: ela, a leve pétrea mafumeira, me olhava de lá. Bela, assim tal-igual: olhava. Olhava - como quandocego cafofo nos vê nos olhos e a gente não sabemos ele está vendo o que o próprio nunca pode ver: os fundos do de dentro de cadaqual. Copa de ninhos , os ramos quietos.Creia: a gente, junto com os paus, somos ainda foscas naturezas. Se nem temos raízes, tudo só pó de rosas dos ventos... O que bem ouvistas as coisas, pode nascer o seguinte já-agora:o que é que o irmão não sabe do que sabe?


( Luandino Vieira)


KIMBUNDU / PORTUGUÊS

Ngana iami ua-ngi-ambela Kiki:
Ndé mu ' Alunga ua sumbe o mbirikitu
Ngai mu ' Alunga, o kindumbu ki-ngi-futami inama...
O meu senhor disse-me assim:
Vai ao mar ( morte) comprar um cobertor ordinário
Fui ao mar (morte) o cobertor não me tapa as pernas...