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26/06/2007

AS BARRAS DA PRISÃO

Porque continuamos a ir à Escola?

Para tranquilamente permanecermos , tornando-nos pontuais... em primeiro lugar, disse Kant.
A optimização do utilizar das horas e dos dias, eis o inculcamento nas nossas estouvadas cabecinhas. Esta interiorização desde os nossos "gatinhares", aclimatiza-nos à regularidade, fielmente nunca nos deixará. De turbulentos e criativos que éramos, em sisudos e assíduos nos tornámos, cristalizados.

Este bloqueio horário assegura que podemos dominar o tempo. Um prazer muito particular nos é oferecido, convertendo nossos viveres, em pleno, prepotente, colocando um selo sobre a dispersão. Ocupar as horas é tarefa hercúlea, por defeito, previsionamos que as vamos enclausurar nos próximos instantes.

"A elaboração de um organigrama para o uso do meu tempo durante este Inverno, ocupou-me dez horas , integralmente" alguém disse.
Perversidade de um projecto, prever a vida, para nos abstermos de a viver. A antecipação esgota por inteiro o acto. Neste constrangimento horário, no seu interior, está a nova "Tábua dos Mandamentos"; emergem florescentes Patologias.

Há os que estão sempre adiantados ou atrasados: duas maneiras de iludir a regra, com uma exactidão e certezas que raiam a insolente arrogância, malandreando desenvolturas. Os encontros amorosos exemplificam-nos que cada minuto é como um século. Então esses falsários descontraídos, que existenciam, de olhares fixos no relógio, parecendo permanentemente solicitados para tarefas inadiáveis. Que dizer entretanto desses reformados, errando desocupados entre o vai e vem do nada para o vazio; levantam-se com a aurora, unidos ao reflexo de uma longa laboriosa vida. Ou o tique da pose da sobreocupação de muitos ociosos, que consultam frenéticamente as suas agendas e que não nos podem conceder mais que um quarto de hora do seu tempo.

No elaboramento preciso de como utilizar o tempo, não chega ter sómente um tipo obsessional de formalidade na mais rígida subdivisão dos dias, habita a secretíssima esperança num golpe de Fadas. Do aleatório pensam estar protegidos só pelo facto de o aguardarem, sonhando que ele fará explodir as malhas do tempo, demasiadamente apertadas.

Quais combatentes que em plena campanha, improvisam tácticas, traçando no solo linhas, que as
chuvas do esquecimento acabarão por apagar. Cortamos assim os nossos dias e as nossas noites com um rigor cirúrgico na esperança de uma absoluta surpresa.

Este ritual compulsivamente alimentado gera contraditórios projectos: contra a espontaneidade, um doentio ódio, ou o desejo de um benéfico apocalipse que virá, varrendo de um só golpe, o nosso acabrunhamento. São as barras da prisão, mas também a promessa de evasão.


Moral da História: O projecto de não ter um projecto é uma árdua tarefa.

1 comentário:

Gwendolyn Thompson disse...

Bravo! Bravo, Kim!!!!

Deixar a vida acontecer e seguir o curso da fluidez observando os sinais, é muito difícil para nós que aprendemos e fomos ensinados a estarmos sempre "no controle", e então quando nos renderemos ao fato de que a existência nos foge ao contrôle?

Beijos

Gwen